Após o início oficial da regulamentação do jogo online no Brasil, o mercado passou a se desenvolver de forma acelerada. Com a base legal e o processo de licenciamento estabelecidos, surgiu também a análise: órgãos públicos e privados começaram a realizar um monitoramento regular do setor, avaliando volume de apostas, comportamento dos jogadores e impacto da indústria na economia. Esses estudos tornaram-se a chave para compreender o cenário real: quem joga, quanto gasta, quanto ganha e a que ritmo cresce o mercado.
Receitas do governo e dimensão financeira
Desde o início de 2025, o orçamento federal brasileiro passou a receber receitas tributárias estáveis dos operadores licenciados. Somente em junho, foram arrecadados mais de R$ 760 milhões em impostos e taxas. Nos primeiros seis meses do ano, a receita total proveniente do jogo legal ultrapassou R$ 3,7 bilhões.
Comparando esses números com períodos anteriores, fica evidente: o mercado tornou-se uma fonte significativa de arrecadação fiscal. No mesmo mês de 2024, a receita foi de cerca de R$ 6 milhões — dezenas de vezes menor. Esse salto abrupto se explica pela transição de um ambiente não regulado para um sistema licenciado, no qual jogadores e operadores atuam de forma transparente e com fluxo financeiro monitorado e processado por órgãos estatais.
Segundo previsões, a receita bruta do setor (GGR — gross gaming revenue) poderá atingir R$ 31 bilhões em 2025. No longo prazo, analistas esperam que esses valores dobrem: até 2030, o GGR poderá ultrapassar R$ 60 bilhões, com crescimento anual estável entre 10% e 12%.
Como os brasileiros jogam: comportamento e preferências
Um dos principais objetivos do monitoramento é entender como os jogadores se comportam: quanto tempo dedicam ao jogo, quais tipos de apostas preferem e com que frequência usam plataformas móveis. Os dados mostram um alto nível de engajamento.
As apostas tornaram-se parte da rotina de milhões de brasileiros. Estima-se que, mensalmente, circulem até R$ 30 bilhões em apostas por meio de plataformas online. Esse valor não representa o faturamento das empresas, mas sim o montante apostado em esportes, cassinos ou produtos lotéricos. Cerca de 94% desse volume retorna aos jogadores na forma de prêmios, evidenciando um ciclo de jogo ativo e frequente.
A maioria das apostas é feita por dispositivos móveis. Aproximadamente 80% dos usuários preferem smartphones, tornando o mercado especialmente sensível ao design de experiência do usuário (UX) e à estabilidade técnica das plataformas.
Por faixa etária, predominam jogadores entre 25 e 45 anos, mas cresce rapidamente o grupo de 18 a 24 anos, para quem as apostas fazem parte da cultura digital. Observa-se também aumento na participação feminina, que já ultrapassa 30% em algumas plataformas.
Quanto às preferências, as apostas esportivas lideram — principalmente no futebol, embora o interesse por eSports e ligas virtuais esteja crescendo. Os produtos de cassino, especialmente slots e jogos com dealers ao vivo, também ganham espaço: cerca de 40% dos usuários participam ao menos uma vez por mês de jogos que não são relacionados a esportes.
Impacto na economia e na sociedade
O crescimento do jogo online traz impactos amplos. Por um lado, gera novos empregos, especialmente em TI, marketing e atendimento ao cliente. Escritórios locais de marcas internacionais são abertos, impulsionando infraestrutura urbana e consumo.
Por outro lado, aumenta a necessidade de controle e apoio social. Cerca de 10% dos jogadores excedem regularmente limites de tempo ou orçamento, o que aciona alertas e intervenções moderadas por parte das plataformas. Os operadores oferecem ferramentas de autocontrole, limitação de depósitos e autoexclusão para reduzir riscos.
Um desafio é a participação de grupos vulneráveis. Entre beneficiários de programas sociais, há um nível elevado de envolvimento em apostas, exigindo abordagem específica dos reguladores. Discutem-se medidas para restringir a participação desse público ou ampliar campanhas educativas.
Previsões de crescimento
Analistas do setor afirmam que o mercado brasileiro de jogos ainda está em fase de crescimento e longe de atingir o pico. A expectativa é de aumento anual da base de jogadores entre 8% e 10%, especialmente em regiões com menos acesso a entretenimento tradicional.
O foco será no cassino online e em produtos inovadores — como jogos com elementos de criptomoeda, social gaming e gamificação de apostas. Espera-se também o surgimento de formatos que unam apostas e streaming, permitindo ao usuário apostar enquanto assiste a uma transmissão, sem sair da tela.
O governo, por sua vez, deve reforçar a fiscalização: planeja-se criar uma base centralizada de monitoramento, melhorar o rastreamento do comportamento dos jogadores e integrar digitalmente todas as plataformas licenciadas ao sistema fiscal.
Conclusão
O mercado brasileiro de jogos online é mais do que uma fonte de entretenimento — é um ecossistema complexo, com impactos econômicos e sociais relevantes. O monitoramento revela crescimento expressivo, público ativo e receitas robustas. Mas, junto a isso, aumenta a responsabilidade de operadores, reguladores e sociedade. Para se manter sustentável, o mercado precisa crescer não apenas rápido, mas também de forma ética, com foco na segurança dos jogadores e na transparência de todos os processos.
